Correntes celestiais
prendem à minha alma
Nos eternos retornos
a esta idêntica jornada;
A mesma dor,
os passos iguais,
a fiel história
e o fim entrelaçado
ao começo;
Enterrei estacas
neste coração
jazido de sonhos
e culpas sem perdão;
Temendo o mesmo fim,
sempre escolho diferentes
finais, logo vem o destino
mostrar o que é capaz;
Eu guio meu coração,
meu espírito,
mas minha jornada é escrita
pelo eterno retorno;
Quebrem os relógios,
matem o tempo,
olhem-se no espelho
e vejam-se diante da
ilusão do livre-arbítrio
O motor sempre esteve
com outros personagens,
que fazem desta matrix
um espetáculo;
Sinto-me espremido
e nulo em meio a
multidão;
O universo interno,
pulsando como um relógio;
e quando a morte cavalga,
este tempo retorna;
O sangue e as lágrimas
desenham meus versos,
assim como a fé molda
o caminho;
Minha carne é o meu
dicionário;
meu pensamento,
minha estrada;
Um braço esquelético,
suportando todas vidas:
a incontável história
e as imutáveis encenações;
Não tenho pressa,
pois correndo,
chegarei no mesmo
lugar onde sempre estarei;
O pensamento criou
o código da realidade;
e os sinais encontram-se
nas rachaduras da alma;
A criança viva,
risonha e trépida
abraça de longe
o homem caído
na própria história;
Em todos os tempos,
uma única alma carrega
a força de viver o mesmo
destino, e não saber o fim;
Um trem transitando
e o miserável sempre
vislumbrando a mesma
estrada;
As paisagens turvas,
os medos violentos
de novo e de novo;
Ainda bem que
o cérebro reinicia,
mas há almas que sabem
da penosa jornada;
O espantalho na sobra,
o sol na pele úmida
e déjà vu raquítico
apertando a lógica;
Os pássaros mortos,
o suor frio,
o riso caótico,
os estilhaços nos olhos;
O coelho preto
de novo e de novo,
o primeiro choro,
de novo e de novo;
O tempo voltando,
o relógio insinuoso,
a consciência bêbada
e o olhar infantil inocente;
A chama nos olhos
escorrendo,
de novo e de novo;
O círculo eterno
ensaiando-me para
o palco da imortalidade;
Eu nasço,
Eu vivo,
Eu morro;
Eu nasço,
Eu vivo,
Eu morro,
de novo e de novo.